“O Senhor concede-nos, também neste ano, um tempo propício para nos prepararmos para celebrar, de coração renovado, o grande Mistério da morte e ressurreição de Jesus, fundamento da vida cristã pessoal e comunitária”. Assim começa, o nosso Papa Francisco, a sua mensagem da Quaresma para este ano.
Eis que entramos nesta terra fértil que é a Quaresma ou, como ouvimos na passada Quarta-Feira de Cinzas, neste “tempo favorável” (2 Cor 6, 2), tempo para nos PREPARARMOS.
PRE. PARAR. MOS.
PRE. Esta pequenina palavra diz-nos sempre que virá algo a seguir… (aponta para algo que virá). Assim, também a Quaresma. Ela que é um caminho que nos leva a um “lugar”, um tempo que nos prepara para um outro “tempo”, para algo Maior. Por isso, tal como acontece com qualquer festa, acontecimento ou encontro especial, é preciso que exista uma boa preparação, tanto mais para a Páscoa.
Com os olhos fixos em Jesus, que este tempo PRE-pascal, não passe sem deixar marca(s). De olhar fixo n’Ele, compreendamos que, tal como a Quaresma, a nossa vida é transitória.
Com o olhar fixo n’Ele, lembremo-nos que é d’Ele que tudo recebemos e que diante d’Ele, somos como mendigos que tudo precisam de receber.
A partir do Seu olhar, aprendamos a amar, a sair de nós, sempre.
“Neste lugar transitório mantém-me mendigo
Desviando-me de mim – não
Da tua mão. Dá-me como. Conduz-me
Para a esquerda e para a direita, roda-me sempre
Para a saída”
(Daniel Faria, Dos líquidos, I/III)
PARAR. Uma atitude cada vez mais rara nos nossos dias… Uma palavra que dizemos com uma certa saudade, por estar tão distante ou até ausente, mediante os ritmos frenéticos da vida.
Parar diante d’Aquele que queremos que continue a ser maior que as nossas tarefas, trabalhos e agendas impõe-se neste tempo da Quaresma. Treinar o coração a esta atitude do estar, permanecer e escutar é aproximarmo-nos do coração de um Deus que não se cansa de nos esperar, escutar e amar. Parar rima com silêncio, com deixar que a língua se cale, com um abrir a mão, com um aprender a ser chão que acolhe a Presença.
“Deixa-me ser a porta no eixo
Posta para trás pela mão de quem entra
Deixa-me ser o chão assiduamente
Quero ganhar a forma
Do degrau
A forma da mão que se abre quando nada tem
E quero a mão, no entanto. Interessam-me alguns instrumentos de posse
A língua para me calar
As rótulas, os calcanhares, os rins”
(Daniel Faria, Dos líquidos, II/III)
MOS. Primeira pessoa do plural. É um caminho feito por cada um, mas em “corpo” – que é esta Igreja a caminho.
Há dias, um amigo partilhava sobre uma peregrinação: “Durante estes últimos dias de peregrinação descobri, no silêncio, algo belíssimo de que nunca me tinha dado conta: o som dos passos de uma multidão que caminha para o mesmo destino. Percebi então que já não tenho só imagens da Igreja, agora tenho também um som”. (João Gonçalves) A Quaresma tem este som de caminharMOS juntos. Um som de uma multidão que caminha em direção a um mesmo destino: a Paixão, a Páscoa.
Assim, se juntos fizermos este caminho, já não diremos que é só Ele que morre e dá a vida, mas antes:
“O corpo inteiro, completo
Para morrer”
(Daniel Faria, Dos líquidos, III/III)
Este corpo que é Movimento. Que é a Igreja.
Tema: PREPARAÇÃO
Ir. Ângela Oliveira, asm
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